As folhas da minha avó
Era o caminho que fazíamos,
todas as manhãs.
Nas noites de chuva,
o cheiro da terra avançava,
nossos ossos ficavam molhados,
nosso rosto vermelho,
nossa alma alerta,
nossos pulmões encolhidos.
Numa caneca esmaltada,
a minha vermelha de bolas brancas,
um leite fresco e quente,
uma mão velha e enrugada a olhar as orelhas.
Sinto saudades da minha avó.
A folha cai,
e vai morar no meio da terra,
a terra agradece e faz de tudo para que a folha volte a habitar nas árvores.
Na realidade é um pacto.
Assim, quando eu me for,
e estiver embaixo da terra, não se preocupem.
A chuva vai molhar e a terra vai fazer com que eu volte de novo, inteira.
Quando a gente vira pó,
não vai embora,
passa a fazer parte do mundo.
Zerafim