28.11.11

MINHA PRIMEIRA VIAGEM




O tempo havia corrido,  isso eu não poderia negar.
As luas por assim dizer ... 70 grandes luas? Não, eram muitas mais.

Hoje me lembrei dos ensinamentos da casa branca - a segunda casa - ORHOS - entendi tanta coisa e acho que muitas outras deixei passar.



Algumas pessoas andavam com seus casacos e japonas e ponches brancos, suas roupas de pele de animal - o grande urso branco estava cansado de lutar contra o calor que sua pele provocava naqueles seres - ditos humanos.


Avancei um pouco mais entre curvas, me desviando dos montes de neve, branca, pesada, impiedosa. 
minhas pernas não eram mais a mesma, mais meu ilô batia como antes.
Ageitei a manta nos ombros e segui andando, sobre o peso das minhas pernas e o peso dos humanos. Muitas coisa não era mais a mesma e meus olhos não escondiam isso. O brilho do novo, da plantação, as primeiras estradas e a descoberta dos cheiros vivos e crescendo ao redor, jamais esqueci.


Haviam construido o pórtico novo na cidade de Ancara - ninguem conhecia a minha Ancara e mesmo que eu ainda olhasse o céu todas as noites, mesmo que procurasse enxergar as três luas e me lembrasse até do cheiro do cabelo de Anael, essa Ancara eraa muito diferente de casa. A entrada norte sempre foi a minha preferida, com flores e vistas para a planície e as montanhas, havia vida crescendo alí.

As última guerras acabaram com a alegria e a vitalidade das mulheres. Muitos haviam derramado seu precioso líquido vermelho naquele chão e isso ficaria gravado para sempre nos olhos e na memória daquelas mulheres.


Sol após sol construimos fortalezas e a peste não pediu passagem, entrou como se fosse convidada de honra, lua após lua, plantamos, colhemos e agradecemos os rios, a terra, o vento e o fogo, em poucos mais de um piscar de olhos os murros eram derrubados, a vida arrancada e a terra queimada. Usavam uma energia contra a outra e matavam a terra como se dela fossem eternos donos.


Dhiel, aonde você está? Aonde eu estou? Nós, quem somos?




Pedaços haviam sobrado, apenas pedaços, ninguem e nada tinha parado em pé.


Ajoelhei e olhei aquele céu cinza, escuro, branco e Dhiel estava lá, bem a minha frente, sem seguer um movimento diferente, uma expressão que não me lembrasse.


È hora de mudar de encostar a carroça, cubrir a cabeça e descansar, outros continuaram, sua estrada apenas começou. Durma Zerafim, nos braços da relva e venha se encontrar comigo, é hora de ir pra casa.


Como um pássaro que anuncia a chegada e a partida, voltei meu rosto e adormeci, mas antes pude ver alguns dos meus correndo em minha direção, gritando o que não podia mais ouvir. haviam se passado 77 luas e eu teria de partir como cheguei, só, eu e os meus pensamentos, minha rosa no cabelo, minha pedra amarrada com 3 tiras de couro no pescoço e a minha moeda de bronze, forjada no fogo do outono, quando sua cor se confunde com a cor dos prados e planícies. Sentí a sandalha se desprender dos meus pés.

Conheceria o barqueiro, aquele a quem devo entregar a moeda. Ele chegou, é hora de partir.
Meu último pedido a Tomar - meu descendente mais velho, fruto do meu fruto: não me consagre ao fogo, me entregue a terra. Preciso estar inteira quando voltar a caminhar nas planícies e olhar as brancas flores que caem do céu. Preciso que a água me alimente e floresça em mim.


Mal parti e sentia saudade, do norte e de Ancara, a minha Ancara. Onde minha essência repousa e minha alegria brota. Meus olhos vieram comigo e meu sorriso permaneceu suspenso no céu...estou perto de casa.


Enfim conheceria a morte - a senhora da luz velada,
aquela que sempre me acompanhou em sonhos. Cabelos presos com flores e edras de um verde sem igual. A túnica azul, as vezes reluzia prata, as vezes ouro.


E eu, não me lembrava mais da cor dos meus cabelos, cor de galajin - cor de sol, cabelos de outono como ele me chamava ... onde ele estará? Medrel.


E num sopro, voltei a respirar...


zerafim

23.11.11

A CASA BRANCA - PARTE II

Devo ter estado umas quatro luas pequenas ausente. Não sei se adormeci...parece qe sonhei...essa casa estava mexendo comigo de tal forma e eu somente entenderia bem mais tarde.
Como se fosse possível, tudo ficou mais claro e avistamos o sol de Ancara, sabia que era de Ancara...mas não era, apenas da casa branca se podia ver a nova terra, e eu a ví.

Eu não tinha como me mover ou dizer alguma coisa, mais também não houve tempo pra isso.


Era o Guardião de Ancara,
por Dhiel, nunca ví nada igual;

os cabelos não tinham cor, porque aquela brancura e aqueles raios eram muito fortes, tive a impressão de tê-lo visto, mais não. Era apenas impressão, do jeito que veio partiu...essa foi a minha primeira estranha constatação: eu sabia quem ele era, a forma que tinha, mas não o conhecia, nunca tinha o visto antes. Isso é constrangedor.
...
Na mesma hora a resosta perturbadora:: construa-o, está na casa branca, tudo pode ser pintado..lembra-se disso Zerafim?

Não sabia o que responder e nem a quem responder. Não sabia da metade que deveria ou de repente não deveria sentir. A única certeza que tinha era de estar alí e por mais que muitas coisas ou quase tudo parecia não fazer sentido, faria, em alguma lua. Alí ou nas terras do norte. Foi então que construi minha primeira imagem. E a sala se encheu de multiplos tons de azul, numa seguencia infinita...minha estrela e  a lua mãe de todas as luas.


Terras, mães fecundas, águas, mães geradores.
Aquela era a minha casa - os campos do norte, aqueles que deveria restaurar.

E pela segunda vez, as águas brotaram do meu rosto.

Eu estava certa.

Muito tempo, grandes luas ainda passariam antes que pudesse retornar, quase entrei...alguma coisa me prendeu.
Ainda não Zerafim, seus estudos ainda não se completaram.
E quando hão de se completar?


Depois que voltares da sua grande viajem saberemos, precisarás da ida muito mais do que da volta, aqui estas em casa, lá construirá uma casa. Não te esqueças da roda de Dhiel...não te esqueças dela.
E a voz sumiu, junto com ela um cheiro de jasmim que jamais me esqueceria e seriam as minhas flores prediletas por muitas e muitas luas.
Zerafim

19.11.11

TRAJETÓRIAS


caravana rrom - Alemanha

"Naquela tarde, o Château ficou inesperadamente mais colorido.
Carroças coloridas puxadas por cavalos enfeitados tilintavam ao passar pela cidade. Prateada e Philippe correram para ver os visitantes, perseguidos por cães e crianças, tocando música e espalhando suas cores alegres em seus sorrisos, lanternas luminosas em seus rostos morenos.
- Nossa! -disse Prateada. - Quem são eles???
-São Ciganos! - respondeu uma voz atrás deles.
Em seu cavalo, o capitão Diderot observava o movimento nas ruas.
- Isso não vai irritar o Duque? - perguntou Philippe.
- Parecem humanos!!...
-São mais do que isso... - respondeu o capitão sorrindo.
- São Ciganos!"

( Extraído do livro Alcatéia - Lua Carmesim)
Zerafim

15.11.11

A SEGUNDA CASA - A CASA BRANCA

Mal despertei e já...
Será que dormí?
Anael não está - onde está?


ou melhor, onde eu estou?
São quatro casas e não estou mais na primeira, a azul, então, onde estou.


Os discos de Dhiel - ninguém fala sobre eles, vão e vem. São lindos, enormes e as vezes fazem um sonido como que cantando algo.
Giram tão rápido que não podemos ver.


Preciso descobrir onde estou.


Sobre meus pés uma sensação estranha, firme e maleável, tochas que não precisavam estar acessas, tamanha a claridade. Formava um cone, como o das crianças de Taurus - uma cor esverdeada no topo a se misturas com o branco da casa. Mas ainda não seion de estou.

Está na segunda casa, a casa de Ancara, que guarda os segredos do pensamento - branco, tudo contém e se mantém livre, sempre. Preserva-la ou mudá-la depende de cada um. Essa é uma das tarefas mais difíceis rromí, quero que compreenda bem.

Eu já tinha ouvido aquela voz antes, mas não podia ser. O que ele, Dhiel estava fazendo aqui, comigo...com tanto a fazer. 

Pensando demais rromí, veja o que digo, se pintares a cor da casa azul, tens um céu, um rio, um rastro!!!

Um rastro eu não compreendo o que seja, conheço o céu e me mostraram as águas, mas os rastros não, o que seria?
Rastros são seres diferentes de você na forma e na maneira de pensar, agir e sonhar. Entretando são possuidores de um senso muito apurado. São reais, fortes a verdadeiros. Essa é Heroina a fêmea mãe de todas as criaturas que habitam nas planícies, relvas e espaços alados. Ela rege a casa de Shofia. Sua fidelidade e força, seu senso de justiça a fez soberana e ela  guardará a sua geração.
O que é geração, quem é essa voz, me sinto estranha.
Eu sou o senhor de Ohros, um dos sete caminhos de Ancara, e não se assuste rromí, nosso tempo acabou de começar...
E imaginei pela primeira vez o que seriam juntos; o tempo com seu azul e Heroina, não conseguia juntar as palavras, não conseguia perguntar...estava gastando minhas perguntas.
Me senti leve e pensei - essa é a casa das possibilidades, conforme juntar as peças, poderei montar esse emaranhado de informações. Do que me serviria? Nem sei seguer para onde vou...o norte.
No meio do nada, abre-se como que por encanto uma fenda larga e profunda...o senhor de Ohros e a sua casa. 
Essa é a roda de Dhiel e Devel - deverá gravar bem o que vê, pois deverá decidir, durante a sua permanencia no norte, em que casas deverá permanecer e por quanto tempo. Essa decisão é sua rromí, quando partir, levará aquilo que aprendeu, modificá-lo, organizá-lo ou exclui-lo serão tarefas suas. Mas lembre-se, ele existe para que ao começarmos a viagem saibamos o caminho de volta, as trajetórias possíveis e os afazeres necessários. Descartá-los pode ser perigoso.
Demore o tempo que quiser, mas cuidado com seus pensamentos rromí, aqui você está diante de uma grande estrada, escolha bem sua companhia, entenda sua natureza, ela será seu guia.

Eram tantas cores e tantos tamanhos e formas, numa perfeição que jamais havia visto. Tudo se parecia com algo que eu já conhecia, mas não podia me lembrar...eu estava num local determinado e ainda por acabar, estava dentro de mim e dentro da casa branca. Já não sabia nada e foi justamente quando percebí isso que minha taça transbordou...
zerafim

11.11.11

O REPOUSO

"DORME EM SONO PROFUNDO UM ANJO,
E AINDA NÃO SABE ELE PREDIZER A HORA,
EM QUE COMEÇARÁ A SUA VIAJEM,
RUMO A LUZ IMPERECÍVEL."

ZERAFIM

7.11.11

A PRIMEIRA CASA - A CASA AZUL

cont...
Dhiel te agraciou com esse dom e com essa maldição. Isso dependerá de você."anael"

Não sei se entendo bem...Um presente de Dhiel, uma maldição!!! O tempo estava na casa azul e essa era a minha pergunta, que agora não poderei perguntar. Como se pergunta ao tempo???
Derepente um sopro, algo que me move sem que eu consiga controlar e tudo passa rápido, os vasos que estavam sustentando arcos viraram pó, estou mudando  o meu corpo, não sinto respirar, as flores morreram e tornaram a nascer e tudo muda de cor, do negro para o amarelo e o azul em tons diferentes, me curvo, estou ausente, não penso mais nada, só um turbilhão.
...
Zerafim acorde, espero que tenha entendido a casa azul, tens alguma pergunta a me fazer? Estais cansada e precisa descansar.
... 
Quem é você?
E aonde estou? o que aconteceu comigo?
...
Podes me ver?
Não sabes quem sou?
Tenha calma, já se passou um bom tempo e deves olhar e reconhecer primeiro o lugar em que está!
Andastes pelo tempo e o tempo a levastes, por isso adormeceu. Acorde. Sou eu, Anael. Estarei sempre com você, vês? tenho mil luas a mais nos meus cabelos.
...
o tempo havia passado na casa azul. tudo mudara, o ar, a lua grande, a pequena sumira, a malha de estrelas estava diferente, muitas coisas haviam desaparecido, meu bloco de anotações estava num canto, empoeirado e esquecido. eu estava estranha. haviam flores azuis e eram pra mim.
...


As flores azuis são pequenas, mínimas na vastidão dos prados, mas te lembrarão do sentimento que romperá seu ilô ao meio e o reconstruirá novamente. São miozótis, resistem ao vento e ao tempo, pois nascem de novo, sempre. Se vão e voltam novamente, brincam o tempo e revestirão seu coração do mais pro azul de Ancara, esse será chamado de azul real e cobrirá seu teto todas as noites. 


Pelas manhãs o azul índigo das águas que o tempo conserva em gotas, conserve-as também. Tudo muda zerafim, o céu e as águas não. Esse é seu tempo, o tempo de aprender, confiar e guardar.
...
Durma, vamos para casa.


zerafim

5.11.11

UM CONTO ENCANTADO

 ORHOS - A CIDADE DA MAGIA/AS QUATRO CASAS


Guardar  tudo...Dhiel me ajude!! Não sei como. Nunca havia me afastado das montanhas de Ancara, ou pelo ao menos nunca havia me dado conta disso. Havia tanta coisa a aprender. O vasto desconhecido.

Perto de Zorran haviam algumas inscrições antigas e lá me disseram que podia perguntar mais, estudar mais e tentar achar algumas coisas para a minha longa viajem. Pedi permissão para viajar além de Zorran. Permissão concedida, regra determinada. Só me resta obedecer.

De fato; alguma coisa me diz que será longa. 

Tempo? volta a pergunta. O que é o tempo? Essa seria a minha maior conquista, tudo falam em tempo, esse eterno desconhecido. Eterno é o tempo. Disse Dhiel em uma de nossas conversas.
Tempo, ilô, darash, kalderas, malais...há tanta coisa que desconheço. Universo, norte, sul, oeste e o temido leste.

Tempo, tenho que me concentrar no tempo, preciso entendê-lo.
Zorran é a zona destinada aos estudos. Ciências múltiplas funcionam ali, paleiras altas, esguias e de profundo silêncio. No próximo portal fica Orhos, lá é o meu destino, terei apenas duas perguntas.

Localizada em meio às estações de parada é uma área sem muitas permissões. Os que aqui chegam são estranhos como eu, nunca os vi, mas receberam ordens parecidas com as Aminhas. Todos irão transportar material e edificar campos, espaços, os números variam, mas para o norte, onde vou, devo hoje coletar 2 partículas do Orhos. Talvez possa voltar depois. Uma destinada ao tempo, isso já decidi. A outra pergunta será sobre essa caixa – meu transporte, meu corpo. Há tantas coisas que não sei e tudo, tudo deverá caber nele.  Definitivamente não compreendo.

O azul é também uma cor especial, o branco, o marrom e o negro. Preciso anotar.
Orhos é imponente, simples e toda cheia de ondulações. Existem quatro braços como que a se entrelaçarem, mas totalmente diferente. Aqui devemos aprender desde a entrada.


Zorbim havia me falado. Me diz tanta coisa e nada.As montanhas azuis. Estão a vista.
Devo entrar pelo braço de Anael – ele coletou todas as informações dessa casa, ela é azul – a casa do tapete azul, depois a casa branca, a casa marrom e a casa negra, só então poderei chegar no ilô de Orhos. 

Anael me esperava na entrada de Zorran – um gesto de curvatura, silêncio e um sorriso sereno. Talvez triste, não sei. Algo que desconhecia. Uma pequena passagem na margem direita nos aguardava, aberta. Entramos.
Essa é a casa de Orhos – aqui todos aqueles que pertencem a linhagem de Dhiel ou por ele são marcados devem conhecer. Conhecerás o que o mundo desconhecido chama de magia e nós chamamos de essência. Nas quatro casas estará o princípio da vida, do que queima, do que arde, do que vive e do que morre. O tempo comanda toda a mudança e é aqui que você vai aprender a lidar com ele...
Não se preocupe em entender rromí, sinta. Dhiel te agraciou com esse dom e com essa maldição. Isso dependerá de você.

Não toque em nada, tudo o que chegar até você é porque deverá ser compreendido por você. Esse é o tempo, cada coisa na hora certa. Aprenda a respeitar o que está a sua volta e nada lhe fugirá da compreensão, disse Anael.

Tudo se movia em completa harmonia e silencio. O tapete dos pés parecia estar na cabeça e tive a sensação de flutuar. Esse era o tempo, a casa azul – a casa do senhor dos tempos.

zerafim

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