Eu havia escolhido viver.
Não sabia bem o que isso seria ou aonde me levaria, mas assim o foi.
Passei 3 luas entre esse e o outro mundo, me disse Joata, um kokun esguio e velho,
de olhar firme e penetrante, assim que abri os olhos me disse.
Fez a escolha certa menina, as estrelas te trouxeram de volta.
Não sabia o que isso significava, estava fraca e tonta. Havia secado também, bem mais magra e mal podia aguentar meu próprio cheiro.
É estrume de búfalo com casca de carvalho, você estava perdendo o mel da vida. O carvalho reforça os ossos, te faz forte e o estrume afasta os espíritos que queriam te levar, acham que está forte e deixam você em paz. Disse Joata, com sua voz pausada e firme.
Me lembro que sonhei com estrelas e céu coberto com elas, de um jeito que jamais aconteceu antes. Eu queria voltar e não sabia, estava cansada, como agora.
As vezes me sentia exausta no sonho, andava, andava e nada, nenhuma luz e céu escuro.
De repente olhei pela fresta que se abriu e uma luz cegou meus olhos, escutei um grito fino e não ví mais nada.
Mais tarde me deram algo forte pra comer, com gosto de raiz, mas não podia ver. Uma faixa tampava meus olhos. Joata me explicou que o sol das flores estava mais forte do que nunca e por isso podia roubar minha energia.
Voltei aos poucos, tímida e com medo.
A imagem do meu salvador era um vulto e tinha medo de esquecê-la.
Demorei mais umas três luas, indo e vindo e o Kokun sempre do meu lado.
Quando pude ficar em pé, me troxeram um pano comprido com muitas cores, uma tina de água bem grande e umas ervas. Pareceu-me que nascia de novo.
Sorri.
Sorri.
Sorri.
Havia terra abaixo dos meus pés e podia senti-la.
Agora sim, podia dizer que estava viva.
zerafim