O CONTO DA RROMÍ
Numa noite,
onde o calendário do tempo não andava, passeava pelas planícies do norte um zerafim alado.
Iluminado pelo clarão das terras ao leste,
a curiosidade o chamou.
Eram labaredas gigantes de fogo vivo e calor enauseante.
Nenhuma das tenras e frágeis criaturas haviam sobrevivido. Procurando saber o porque de tamanha devastação, cortou aos céus, rápido, insólido, angustiante.
E assim suplicou:
Há um trecho de fecunda terra, que sobreviveu pelo carinho do vento do norte que sopra, sua soleira é rica, seus campos encantados, sua face límpida e transparente. Eis que me aflijo Dhevel, senhor dos sete mundos, pois sem explicação alguma se tornou seca e sem vizo, brilhante adivinda de uma chama que a tudo consumiu e a tudo devastou.
E sem se conter, dos seus olhos brotaram gotas tenras e límpidas, sua visão fora coberta por uma camada de vento e seu peito ocupou dois tamanhos.
O que são meus sentimentos? Porque transbordo de pesar, numa tristeza infinita que ora jamais conhecí?
E assim Dhevel ordenou;
Nunca revelei a ninguém que sou o senhor dos sete mundos, nunca em tempo algum permite que visitassem as terras do norte que rodeiam a montanha por mim consagrada. Só você, Zerafim, atravessou os campos de névoa branca, as colinas de Amam e os campos de Zafir. Em sonho plantastes e cultivastes a vida do meu jardim, meu canto mais precioso.
Descobristes a dor, sem que jamais a tenha apresentado, chorastes um choro que não pertence aos anjos, mas somentes aos filhos consagrados de Dhevel, meus filhos de carne e de sangue.
Hoje escolhestes sua natureza, sua sina e seu destino.
És rromí, e teraz os olhos do mundo, a cor dos frutos, a alma de um anjo e o corpo de uma mulher. Dara a sabedoria dos sentimentos aos meus, será forjada a fogo ardente que queima, modifica e renova a terra.
Por compreender o meu amor, receberás o reino do norte.
Esta é a promessa que te faço, hoje, no dia em que compreendeu por sí só os caminhos da criação.
Leva contigo o lótus nas mãos, terás mil vidas e mil sonhos, as estrelas por olhos, meu manto por teto e a terra por afeto. A ela tudo o que pedires, do norte será enviado e nada em essência te faltará. Não perderá tuas asas, mas poucos a veram.
Recebe o dourado do sol,
revestido de força e que te será como um escudo.
E para que nunca te esqueças da verdade que agora te digo, ordenarei a lua que te guarde ante toda e qualquer escuridão.
Vença os teus inimigos,
não por tí,
por mim,
e pelos séculos que hão de vir,
muitos nomes terás.
Por ora te chamarei Rromí.
Zerafim